Os Wagashi são mais do que meros doces: são expressões artísticas e culturais profundamente enraizadas no Japão.
Estes tradicionais doces japoneses desempenham um papel fundamental nas cerimónias de chá Chanoyu. Vamos então conhecer um pouco melhor a sua origem, algumas das suas variedades e desvendar a sua importância nas cerimónias Chado.
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Origem dos Wagashi
Embora o termo “wagashi” seja associado aos doces sofisticados que conhecemos hoje, as raízes dessas delícias remontam a períodos antigos, quando os japoneses começaram a experimentar a criação de doces simples à base de arroz.
Foi durante o período Nara (710-784) que as influências culturais da China, incluindo o budismo e os métodos de confeitaria, começaram a infiltrar-se no Japão. Esta influência expandiu-se durante o subsequente período Heian (794-1185), onde os doces começaram a ganhar destaque na culinária da corte imperial.
Neste período, os doces que eventualmente evoluiriam para os wagashi modernos começaram a ser mais esteticamente desenvolvidos e integrados em festivais e celebrações, refletindo a sofisticação e as nuances da corte imperial japonesa.
No entanto, foi no período Muromachi (1336-1573) que os wagashi começaram a ser associados à cerimónia do chá. A cerimónia Chanoyu, influenciada por mestres como Sen no Rikyu, começou a valorizar a harmonia e a estética que os wagashi proporcionavam, iniciando a sua adopção como um elemento fundamental para completar a experiência meditativa e contemplativa do chá. Foi neste período que a sua apreciação se popularizou, e passou assim a ser uma parte da expressão artística e ritualística da cerimónia japonesa do chá.
Tipos de Wagashi
Os wagashi podem ter várias texturas que variam de macias a gelatinosas, e diversas formas, cada uma com os seus ingredientes e significados únicos. Entre elas encontramos:
- Mochi: Bolinhos de arroz glutinoso, muitas vezes recheados com pasta de feijão azuki doce.
- Dorayaki: Duas panquecas recheadas com anko, formando um doce que combina uma textura macia com uma doçura intensa.
- Daifuku: Uma variação do mochi, recheada com uma variedade de ingredientes além do anko, como morangos ou creme.
- Namagashi: Delicados e sazonais, estes doces são feitos de anko e agar-agar, apresentando formas que refletem a estação ou a ocasião.
- Manju: Bolos de feijão vaporizados ou assados, recheados com anko ou outros ingredientes locais.
Wagashi no Chanoyu
Na cerimónia do chá japonesa, o wagashi não é apenas um deleite para o paladar, mas também uma preparação para o matcha, e uma escolha pensada e cuidada alinhada com a estação do ano, quer no seu design, quer nos ingredientes usados na sua confecção.
O doce e intenso sabor do wagashi prepara o paladar para o sabor umami e ligeiramente amargo do matcha. Esta combinação não só equilibra os sabores, mas também harmoniza a experiência de beber o chá, ressaltando a filosofia de “wa-kei-sei-jaku” (harmonia, respeito, pureza, tranquilidade).
Estética e Significado
Os wagashi são frequentemente vistos como obras de arte (reconhecimento obtido durante o período Nara, entre 1600 e 1867), com grande ênfase na estética, sendo considerados uma forma de expressão artística, em que cada peça serve como um símbolo de hospitalidade e artesanato.
Com uma apresentação meticulosa, cada wagashi reflete a habilidade do confeiteiro que o criou (vários são os anos de treino para se conseguir dominar a habilidade de moldar esses doces em formas que podem incluir flores, folhas, ou elementos tradicionais japoneses) e a beleza natural da estação em que é feito. Usam ingredientes sazonais e frequentemente apresentam motivos que refletem a paisagem ou elementos culturais da época, ajudando a aprofundar a conexão com o momento presente.
Os wagashi são deste modo doces essenciais à cerimónia japonesa do chá, servindo um propósito que vai além do complemento ao matcha: constitui-se como uma experiência cultural integral.
Ao provar um wagashi, estará ao mesmo tempo a desfrutar de um doce e a participar numa tradição que celebra a beleza das estações, a arte da confeitaria e a serenidade da cerimónia do chá.