Descubra as origens e história do método tradicional chinês de preparação do chá Diancha, e conheça a sua importância cultural.
O chá é uma bebida com uma rica história que transcende as fronteiras políticas e culturais modernas. A sua origem remonta a tempos anteriores à formação dos países atuais, e a tradição de preparação do chá evoluiu ao longo dos séculos. Entre os muitos métodos tradicionais, o Diancha destaca-se como uma técnica antiga e única.
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O que é Diancha?
Diancha, que pode ser traduzido como “tea kneading” ou “tea pressing” em inglês, refere-se a um método tradicional de processamento e preparação de chá que evoluiu durante a Dinastia Song (960-1279), que envolve a fermentação e moldagem das folhas de chá. Este método era distinto do estilo de infusão preferido durante a Dinastia Tang, e tornou-se um símbolo cultural importante na época.
O Processo de Preparação
Durante a Dinastia Song, o Diancha envolvia um processo específico e ritualizado que começava com a adição de água quente ao chá em pó fino, criando uma pasta espessa. Em seguida, mais água quente era adicionada lentamente enquanto o chá era batido constantemente com um bambu, até formar uma espuma densa. Este método não só acentuava os sabores do chá, mas também realçava a sua apresentação, que era uma parte fundamental da cultura do chá da Dinastia Song.
- Colheita e Preparação das Folhas: As folhas eram colhidas e deixadas a murchar ligeiramente e, depois, processadas em pó fino, semelhante ao método usado na preparação do matcha.
- Preparação Inicial: Uma pequena quantidade de água quente era adicionada ao pó de chá para criar uma pasta.
- Bater e Adicionar Água: A pasta era batida vigorosamente com um batedor de bambu enquanto se adicionava gradualmente (por sete vezes) mais água quente, criando uma infusão espessa e com espuma branca.
- Apresentação: O resultado final era uma bebida rica e espumosa, apresentada em tigelas, destacando a elegância e a sofisticação da cerimónia do chá da época, servida depois em pequenas taças, muitas vezes enriquecidas com pequenas pinturas na espuma.
Origem do Diancha
Na China, a preparação e o consumo do chá evoluíram significativamente ao longo dos séculos.
Durante a Dinastia Tang (618-907 d.C.), o chá começou a ganhar popularidade. Lu Yu, um destacado especialista em chá da época, documentou o chá na sua obra “O Clássico do Chá” e foi responsável pelo caráter 茶, que deu ao chá o nome de “cha” no mundo. O chá tornou-se uma alternativa popular ao álcool nas recepções e teve um impacto significativo na economia da dinastia Tang, sendo trocado por cavalos e outros bens.
Com o advento da Dinastia Song, o Diancha emergiu como um estilo de preparação que refletia a sofisticação e o gosto estético da época. O “Dian Cha”, ou chá batido, ganhou uma grande importância durante este período, tornando-se uma prática central na cultura do chá na China. A técnica de bater o chá em pó até formar uma espuma não só demonstrava a habilidade do preparador, mas também simbolizava a apreciação cultural pela elegância e pelo ritual. Este método, embora semelhante ao matcha japonês, era único na sua execução e tinha um papel central nas cerimónias de chá da elite, e embora tenha as suas origens na Dinastia Tang, floresceu na dinastia seguinte, onde se tornou uma necessidade diária.
O Diancha na história do Chá
Durante a Dinastia Song, a qualidade do chá melhorou significativamente, e surgiram os estilos de chá solto que conhecemos hoje.
Foi também durante esta dinastia que o conceito de chá em pó, foi inventado. Este método de preparação envolvia o uso de vapor em vez de wok para interromper a oxidação das folhas (processo de fixação), seguido do processo de moagem de “Tuan Cha” (茶团) – bolos de chá comprimidos -, que os transformava num chá em pó fino (que mais tarde influenciaria o matcha japonês). Este chá em pó era então peneirado e armazenado em caixas de chá. Durante as cerimónias, uma pequena quantidade de chá em pó era colocada numa tigela aquecida e misturada com um batedor de bambu com uma pequena quantidade de água quente até formar uma pasta. Depois, água quente era adicionada em sete etapas distintas, enquanto o chá era batido continuamente, resultando numa bebida com uma textura suave, e com uma espuma branca e densa na superfície, conhecida como “Xue Mo Ru Hua” (雪沫乳花), que se assemelha a flocos de neve.
Esta era uma prática tão refinada que até mesmo o Imperador Huizong de Song (1082-1135), um grande entusiasta do chá, escreveu o “Da Guan Tea Lun”, um tratado sobre o chá, onde descreveu o “Qi Tang Dian Cha Fa” (七汤点茶法), uma técnica de adicionar água em sete etapas diferentes enquanto se batia o chá.
Foi também Huizong quem ordenou aos oleiros reais que criassem novas taças de chá, resistentes a altas temperaturas e elegantes. Este novo estilo de taças de cerâmica veio encorajar o consumo da bebida, e transformou a prática num ato de prazer, consciência e admiração do próprio licor. Foi também durante este período de desenvolvimento da cultura do chá que o serviço (cerâmicas) utilizado na preparação e consumo da bebida passou a ser apreciado pelo seu valor artístico, e não meramente prático e funcional.
Este jogo de preparação do chá, conhecido como Diancha, tornou-se então uma forma ritualizada de preparar chá e foi transformado pelos monges zen numa prática ritual. O cha-no-yu (cerimónia do chá) foi então codificado, e a preparação de matcha tornou-se uma arte apreciada pela elite japonesa.
A prática do Diancha foi retratada em várias obras culturais modernas, como em dramas históricos chineses, que têm ajudado a revitalizar e a disseminar esta técnica tradicional para o público contemporâneo.
O Diancha é uma técnica fascinante e histórica que oferece uma visão única da evolução do chá
Ao explorar este método antigo, podemos apreciar a complexidade e a profundidade da tradição do chá, que tem uma rica herança cultural que vai muito além das fronteiras políticas modernas.
O chá, em todas as suas formas, continua a ser uma bebida apreciada globalmente, e o Diancha mantém um lugar especial na história da arte do chá.
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